O QUE ESPERAMOS DA COP 26

A COP 26 é a oportunidade de afirmarmos, com ações, nosso compromisso com o Planeta - a Nossa Casa Comum. O movimento Renovar Nosso Mundo Brasil espera que os países assumam e cumpram metas mais ambiciosas do que as que foram estabelecidas no Acordo de Paris, em 2015, principalmente as metas referentes à mitigação dos gases de efeito estufa. Também espera a adaptação para proteger as comunidades vulneráveis e a biodiversidade dos efeitos da crise climática. É urgente que cada nação implemente definitivamente sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) e, neste sentido, que os países desenvolvidos cumpram a promessa de financiar países em desenvolvimento. Esperamos que a COP 26 pressione o governo brasileiro a combater com maior rigidez e comprometimento o desmatamento de nossas florestas e a garantir que nossos povos originários e nossas comunidades tradicionais tenham o direito às suas terras.

Neste mesmo pensamento, Renovar Nosso Mundo Brasil ouviu alguns de seus filiados, que compartilharam sobre o que esperam da COP 26.

Yara, como engenheira ambiental e sanitária, nesse momento tão sério que o mundo enfrenta, o que você espera da COP 26 ?

Segundo a renomada Revista Forbes, líderes religiosos da igreja católica se reuniram antes da COP 26 para falar e alertar contra a maximização do lucro atualmente em detrimento das gerações futuras e apontaram para exemplos na Bíblia. “Somos alertados contra a adoção de opções de curto prazo e aparentemente baratas de construir na areia, em vez de construir na rocha para que nossa casa comum resista às tempestades (Mt 7,24-27)”.

Perfeita colocação. Como cristãos, devemos dar exemplo cuidando e sobretudo orando por nossos governantes. Precisamos olhar para o futuro, buscando práticas sustentáveis desde o presente e não permitir que a maximização dos lucros de grandes empresas, com seus monopólios, afetem direta ou indiretamente o planeta e a vida dos seres que nele habitam, principalmente ou mais vulneráveis.

Não há dúvidas de que nossas ações geram consequências, afetam uns aos outros, seja em um curto, médio ou longo prazo, alcançando até as gerações futuras.
Como cidadãos deste mundo, que professam a fé e o compromisso com o Deus Criador, esperamos segurança por parte do governo, melhores e efetivas políticas públicas, condições melhores de trabalho que nos dê condições dignas de viver e de cumprir nossa responsabilidade e dever como cristãos, de cuidar da criação, por meio de práticas sustentáveis e do cuidado com a nossa Casa Comum.

Por fim, é preciso mudar hábitos e atitudes, desde as mais simples, para minimizar os impactos ambientais e climáticos gerados pelo nosso estilo de vida e de consumo. Afinal, onde quer que estejamos, precisamos cuidar da "nossa casa”. Seja individualmente, como templo do Espírito Santo que somos, seja como Planeta Terra, vivendo coletivamente, a mudança depende de cada um de nós e precisa acontecer "agora".

Yara Amorim, de São Paulo/SP
Engenheira Ambiental e Sanitária

 

Pastor Timóteo, o que o senhor como importante teólogo ambiental do Brasil, espera da COP 26?

Diante do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) é absolutamente fundamental que todos os países da ONU cumpram o Acordo de Paris, mas que também superem o acordo significantemente. Isto envolve uma série de outros compromissos práticos, principalmente a substituição de fontes de energia à base de carbono, a cobrança dos impostos sobre o uso de carbono e medidas para capturar carbono do atmosfera (por exemplo, pela restauração em massa das atuais florestas tropicais e a plantação de novas florestas). Entretanto, embora os meios sejam essenciais, basta focar a nossa atenção na cobrança do cumprimento e até superação (ir além) significante do Acordo de Paris.

Para além da COP, organizações como a nossa precisam focar em como comunicar a importância da justiça climática para a eleição e cobrança dos nossos governantes... mas não de maneira reacionária e sim de um jeito que a justiça climática se transforme em alto critério para as nossas audiências evangélicas, pois, de outra sorte, hão de permanecer modestas na área da advocacia política... Às vezes de modo simples podemos promover mudanças e transformações significativas. A exemplo do movimento "Black lives matters", precisamos chamar a atenção para o compromisso que toda coletividade deve assumir uns com os outros, sobretudo com os seres humanos mais marginalizados (negros, mulheres, indígenas em destaque), mas também com toda a natureza e com as futuras gerações que habitarão nosso Planeta.

A minha preocupação atual não é tanto como poderemos "argumentar" bíblica e teologicamente, mas sim, como podemos comunicar de forma simples e incisiva.

Timóteo Carriker, de Florianópolis/SC
Pastor e escritor

 

André, como jovem teólogo e indígena, o que você espera das lideranças que participam da COP 26?

Espero que a COP 26 reconheça o papel e o protagonismo dos povos e comunidades tradicionais (povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares, etc.) na preservação do meio ambiente. Que os países que convivem com estes povos em seus territórios entendam a importância de garantir os seus direitos, principalmente a demarcação e defesa de suas terras, pois desse modo estão defendendo áreas de preservação ambiental; e que os demais países façam pressão para que esses direitos sejam assegurados. Que os modos de vida tradicionais, que hoje têm sido resgatados pela alcunha de "bem viver", sejam reconhecidos como uma alternativa ao modo de vida capitalista e consumista que é insustentável e está matando o planeta. Contudo, também espero que a COP 26 procure alternativas estruturais e sistêmicas, reconhecendo que a devastação ambiental é promovida pelo atual modo de produção desenvolvimentista capitalista, e que tenham coragem de endereçar aos grandes responsáveis pelos grandes desastres ambientais, que são principalmente as grandes corporações (como a mineradora que causou o desastre contra Brumadinho e Mariana) e o agronegócio, que diferente da agricultura, não é focado em alimentar as pessoas, mas a lucrar a qualquer custo, inclusive sobre a destruição do meio ambiente.

André da Silva Muniz, de Paracambi/RJ
Teólogo e indígena Puri

 

Lourdes, como educadora na área ambiental, qual sua expectativa sobre a realização da COP 26 e as mudanças que dela venham decorrer?

Nós, do Centro de Educação Ambiental Gênesis, nos juntamos aos diversos segmentos da sociedade global, que se manifestam sobre as recomendações para a COP 26. Esta que será uma das mais importantes, tendo em vista a pandemia da COVID 19. Nossa sugestão é que haja resoluções que incentivem valorização dos ecossistemas, principalmente os localizados em áreas urbanas, pelos governantes.

Esses pequenos ecossistemas fornecem serviços de regulação climática, principalmente para combater as ilhas de calor nos subúrbios degradados das periferias das cidades latinoamericanas. Os governos devem identificar tais segmentos e implementar programas de restauração e cuidados com a participação da população. Aqui no Brasil está em curso o Programa Floresta do Amanhã, que vai plantar um milhão de hectares de florestas em municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Lourdes Brazil, de São Gonçalo/RJ
Diretora do Centro de Educação Ambiental Gênesis

 

Caro Herculis, o que um jovem, líder local no norte do Brasil espera da COP 26?

Enfrentar a perda da natureza ao redor do mundo não é uma tarefa fácil para ninguém, principalmente para quem mora na região norte do Brasil, onde pouco se fala e se faz sobre mudanças importantes e significativas para o meio ambiente. Por isso, nos reunimos constantemente com irmãos de diversas regiões do Brasil e do mundo para orarmos e falarmos sobre a COP 26, a qual visa avaliar o progresso feito nas questões relacionadas à mudança climática do mundo, gerenciado pelos líderes mundiais. Esperamos grandes coisas dessa conferência: decisões corretas, ações positivas para o meio ambiente, que façam com que as pessoas do mundo vivam bem, acreditando em um futuro melhor para si e para as próximas gerações.

Herculis Batista, de Macapá/AP
Jovem e Coordenador do Projeto Acolher

 

Maria Francisca, como professora, indígena, quais suas expectativas sobre as decisões a serem tomadas pelas lideranças mundiais reunidas na COP 26?

Diante de tudo que estamos vivenciando nos últimos tempos, às vezes nos falta a fé e a confiança nos órgãos criados para atender a justiça e o equilíbrio da vida humana aqui no nosso planeta, nossa casa comum. Porém, a nossa confiança no Pai criador do universo autor e consumador da nossa fé, nos move a acreditar que pra tudo há um tempo determinado, pelo criador.

Por isso, acredito que tudo que a humanidade vem sofrendo seja uma oportunidade para repensarmos nossos hábitos e atitudes. Esperamos que uma reflexão a nível mundial venha acontecer onde se chegue ao consenso que o cuidar da nossa casa comum é dever e responsabilidade de todos nós. E que para isso sejam criadas leis de responsabilidade que sejam aplicadas a todos sem distinção em prol do bem comum.

Maria Francisca da Silva Araújo, de Jatobá/PE
Professora e indígena Pankaiwka

 

Pastor Valdeban, como agricultor agroecológico e como liderança espiritual em sua comunidade, o que o senhor espera dessa reunião da COP 26?

Espero que as lideranças que participam da COP 26 apresentem medidas para frear o desmatamento, as queimadas e o envenenamento da terra. Que eles tomem medidas mais firmes para combater isso. Porque, está enraizado na mente das pessoas, na zona rural o queimar, o arrancar, o matar, o destruir, o envenenar... Então, se tiverem medidas mais firmes para isso não acontecer, é o que eu espero como resultado dessa reunião da COP 26.

Valdeban Alves de Almeida, de Santa Teresinha/PE
Pastor Missionário e Agricultor Agroecológico

 

Pastor Alberto, como pastor e indígena, quais as principais questões a serem cobradas das lideranças mundiais neste momento em que estão reunidas na COP 26?

Neste momento de crise política e ambiental, o que nós esperamos da COP 26 é que os países venham de fato reafirmar o compromisso com os acordos e com os tratados internacionais na questão da defesa ambiental. Não só da Amazônia, mas também dos outros biomas que compõem o nosso país e onde existe ainda a floresta, que precisa ser preservada.

Estamos passando também por dificuldades muito grandes, em função do avanço do agronegócio em terras indígenas. Nós esperamos que esses líderes de países importantes do nosso planeta venham cobrar com mais rigor esse desgoverno que está aí diante do nosso país hoje, para que haja a proteção necessária para os povos que ainda precisam dessa proteção, como os Yanomames, os Mundurukus e os indígenas isolados do nosso país. Falamos várias vezes que uma terra indígena demarcada contribui com a proteção do meio ambiente, pois a natureza e o cuidado com o meio ambiente fazem parte do cotidiano indígena.

Por isso, esperamos dessas lideranças mundiais que venham cobrar do nosso país, aonde têm ocorrido absurdos – verdadeiros crimes – como o desmatamento, as queimadas, os garimpos ilegais em terras indígenas. Esperamos que se erga uma voz com força a cobrar isto. Nós estaremos lá, como povos indígenas. E como os mais afetados com essa situação, estaremos à frente, cobrando dessas autoridades do nosso planeta que respeitem os direitos dos nossos povos e preservem o meio ambiente.

Alberto França Dias, de Dois Irmãos do Buriti/MS - Aldeia Buriti
Pastor e indígena Terena


Para mais consultas e informações

Coalizão Brasil defende aumento da meta climática brasileira: A Coalizão lançou o relatório “Recomendações para a COP 26”, em que lista uma série de temas que devem ser levados em conta pelos negociadores que representarão o país na Conferência do Clima, em Glasgow. Entre eles, estão a instituição de metas mais ambiciosas para redução das emissões de gases estufa, a regulação dos mercados de carbono, a valorização dos ecossistemas, o financiamento e a justiça climática.

Relatório completo

Sumário executivo

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