Mudanças climáticas, aquecimento global, sustentabilidade... Esses assuntos estão na pauta das igrejas? É difícil tirar uma conclusão. Mas, aos poucos, algumas sementes estão sendo lançadas em igrejas, seminários e demais eventos voltados para o público cristão. Sementes que têm como objetivo sensibilizar a Igreja para o cuidado com a criação, entendendo isso como parte da missão redentora do próprio Cristo.
Os cristãos se importam com questões ambientais?
Nas últimas semanas, representantes da campanha Renovar Nosso Mundo estiverem em três eventos para falar sobre esses assuntos. Nicole Berdnt, da Casa Sem Lixo e integrante do Grupo de Trabalho de Resíduos da campanha, esteve no Vocare 2019, em Maringá (PR), realizando uma oficina para cerca de 45 jovens. O pastor Werner Fuchs, integrante do Grupo de Trabalho de Teologia, falou sobre “A crise planetária como desafio à fé cristã” para cerca de trinta alunos das turmas de Ecologia Humana e Missão Urbana, na Missão Avalanche, em Vitória (ES). E o missiólogo Timóteo Carriker, integrante do Grupo de Trabalho de Teologia, participou do encontro Arte, Fé e Meio Ambiente, em Belo Horizonte (MG), e de três eventos no Rio de Janeiro - o encontro inter-religioso “Fé no Clima”, promovido pelo ISER (Instituto da Religião); ministrou o curso “Fé Cristã e Meio Ambiente: Teologia Bíblica da Criação e Missão”, e apresentou um trabalho no encontro “A Teologia da Saúde Alimentar”, ambos no instituto Djanira: Estudos de Ensino e Pesquisa.
Confira breves relatos sobre os encontros
Vocacionados para a sustentabilidade
“As pessoas que participaram das oficinas realmente se interessavam no assunto. Algumas vieram por pura curiosidade, outras já estão no caminho, são estudantes da área e querem se desenvolver mais. Para a maioria, o conteúdo ainda é surpresa, pois realmente se fala pouco no assunto nas igrejas, mas como a ideia é produzir engajamento na causa, sinto que todos saíram dali repensando seriamente seus hábitos e desejando fazer algo a respeito. Acredito que cuidar da criação é uma missão para todos, e não apenas alguns, de acordo com Gênesis 2. Como igreja, praticamente não estamos cumprindo essa missão. Creio que há um erro de compreensão teológica na forma como encaramos o novo céu e a nova terra. Mas, de todo modo, a avaliação é positiva, de gratidão e esperança de que a semente plantada dê frutos!”. Nicole Berndt, ativista ambientalA salvação em Jesus é pessoal, social e ambiental
“As pessoas que participaram do curso eram bem diversas. Alguns trazem belas experiências que enriquecem o debate. O pessoal da missão urbana tem alguma bagagem em questões econômicas e ambientais, como por exemplo, o cuidado com a água. Já a parte bíblica, que inclui a releitura de passagens do Gênesis e aspectos de Jesus e o meio ambiente, é bastante nova, até mesmo para mim. Mas houve grande interesse e vários me disseram que saíram bem motivados para um engajamento. Quanto a um possível aumento de interesse dos cristãos pela questão ambiental acho que é cedo para ter uma conclusão. A questão está mais presente na mídia, e isso se reflete sobre uma maior preocupação dos cristãos – por exemplo, com as vítimas do caso em Brumadinho (MG). É cedo para dizer que a questão ambiental planetária esteja sendo entendida como inerente à missão cristã, assim como para a maioria dos cristãos é bastante dissonante afirmar que a salvação em Jesus é pessoal, social e ambiental, ao mesmo tempo.” Werner Fuchs, pastor e teólogoÉ preciso tempo para trabalhar a teologia bíblica da criação
“O curso teve duração total de oito horas. Então, é difícil fazer uma teologia bíblica de qualquer coisa em pouco tempo, porque fazer uma teologia mais abrangente exige tempo, pela própria extensão das Escrituras. É preciso tempo para demonstrar que as Escrituras têm uma preocupação pela criação de Deus, uma preocupação redentora por essa criação; e a gente precisa trabalhar assim para demonstrar que isso faz parte do papel da vinda de Cristo, faz parte da missão da igreja e da composição do que significa ser povo de Deus. Está tudo nas Escrituras, mas é preciso tempo para trabalhar isso. Mas tivemos um bom momento porque são pessoas que já tem interesse na temática”. Timóteo Carriker, missiólogoO quanto a igreja se interessa por questões ambientais
“O que estou percebendo é que, no geral, a igreja não tem demonstrado muito interesse no assunto. Talvez, o motivo seja um tipo de mentalidade de que o assunto é um dever do governo, da sociedade civil e comercial, mas não da igreja; e que a igreja teria que se preocupar com evangelização, plantação de igrejas etc. Isso é a maior barreira em falar sobre o tema. Tenho percebido que o que ajuda a quebrar essa barreira é demonstrar a situação em que o planeta está e dar dados bem seguros de organizações mundialmente conhecidas, e falar um pouco sobre os debates. Havia um debate na comunidade científica nas últimas décadas a respeito das mudanças climáticas, mas acabou. Nos últimos quinze anos alcançamos 97% de consenso na comunidade científica. Portanto, podemos dizer que [mudanças climáticas] é consensual. Então, uma das tarefas é apresentar esses dados de forma que seja fácil de acompanhar e entender. Visto isso e entendido a significância disso, em termos de calamidade que isso vai causar e a oportunidade de a igreja mostrar a misericórdia e a compaixão de Deus diante de uma multiplicação de refugiados, vítimas de secas, tsunamis, furacões etc. Isso estimula a igreja a pensar o seu papel”. Timóteo Carriker, missiólogoComo chamar a atenção da igreja para o meio ambiente?
“Um aspecto que provoca a igreja é mostrar nas Escrituras o carinho e o amor que o Criador tem para com a criação, em contradição com um ‘povo de Deus’ que não expressa esse mesmo amor, carinho, dedicação e cuidado. Isso é um fator que ajuda a igreja a entender o seu papel. Mas apenas mostrar os dados científicos pode criar inércia e pânico – o pensamento de que não tem mais o que fazer. Por isso, o encontro “Arte, Meio Ambiente e Fé Cristã”* quer contribuir para sensibilizar as pessoas. A arte, a música, a fotografia, a dança, a poesia, inclusive o jornalismo, ajudam muito nisso. Um dos maiores impactos que tive na minha vida sobre o assunto, foi por meio de um livro escrito por um jornalista. Então, precisamos aprender a comunicar.” Timóteo Carriker, missiólogo
*Arte, Meio Ambiente e Fé Cristã é uma iniciativa que reúne artistas e especialistas para refletir e buscar caminhos para os problemas ambientais a partir de uma perspectiva cristã bíblica. A primeira edição aconteceu em Belo Horizonte (MG), nos dias 14 e 15 de junho. A próxima será em Brasília (DF), nos dias 19 e 20 de julho, com a participação de Timóteo Carriker, Raissa Rossiter, Gladir Cabral, Carlinhos Veiga, Expresso Luz, João Leonel, Anderson Monteiro, Roberto Diamanso, Paulo Uetti, Rubão Lima, Marcelo Renan, Vinicius Bufon, entre outros. Mais informações, aqui.