A Semana do Clima sob o olhar de representantes da campanha Renovar Nosso Mundo

Por Josias Vieira e Géssica Dias
A Semana do Clima da América Latina e Caribe, promovida pela ONU, aconteceu em Salvador, Bahia, no período de 19 a 23 de agosto. As expectativas para evento eram muitas, porém, algumas coisas nos surpreenderam logo no início. Primeiramente, nos surpreendemos com o agir de Deus para estarmos no encontro. Sabíamos que tinha um propósito especial, mas ainda não tínhamos clareza dos detalhes.

Tínhamos feito nossa inscrição pelo site, mas quando chegamos ao local do evento fomo informados que nosso cadastro não havia sido registrado e, por isso, não poderíamos participar da conferência. Havia uma fila muito grande e muita gente já tinha sido barrada por causa do excesso de participantes. Relatos que ouvimos de algumas pessoas quanto à falta de educação e trato com os participantes por parte da organização, nos deu um sinal de alerta de como precisaríamos proceder. Além do atendimento, o sistema do evento foi todo em inglês, o que nos pareceu se tratar de uma possível forma de coibir a participação de pessoas ligadas aos movimentos sociais, principalmente, os de atuação ambiental.

Deus começou a agir quando fomos atendidos por uma brasileira que pareceu ter sido iluminada. Falamos que éramos de Recife, PE, e que estávamos representando a Campanha Renovar Nosso Mundo. Prontamente, ela nos acolheu e fez nosso cadastro, afirmando que poderíamos entrar. Deus é grande!

A Criação de Deus num balcão de negócios

A partir do momento em que se consegue entrar em um evento global como este, abrem-se grandes oportunidades de conexões e parcerias, além de diálogos com diversos atores.

Inicialmente, foi difícil encontrar pares no meio do encontro, porque a massa de pessoas presentes foca nas questões da adaptação aos problemas da mudança climática e a possibilidade de lucro com esse assunto. Mesmo com a fala do cientista Carlos Nobre, que denunciou o aumento nas emissões de gases de efeito estufa e a progressão para uma grande catástrofe, a impressão é que estamos em um grande balcão de negócios, onde o principal “produto” negociado é a Criação de Deus.

Diante da constatação, entendemos o motivo das barreiras para encontrarmos os povos indígenas, quilombolas e movimentos sociais. Consegui estabelecer uma conversa com o professor Carlos Nobre para ter acesso aos dados que ele apresentou. A continuidade desta se dará através de e-mail.

Conexões

Nessa oportunidade, tive acesso à assessoria do Secretário de Sustentabilidade da prefeitura de Salvador, BA. Isso possibilitou uma reunião com o secretário, André Fraga, onde pude entregar o Relatório “Não Há Tempo a Perder”. Deixamos o canal aberto para que a Campanha Renovar Nosso Mundo possa apresentar propostas de como pode colaborar para que os resultados da Agenda 2030 sejam alcançados.

Após a reunião com o secretário, participamos de um ato especial do Engajamundo – um movimento de jovens com discussões na área das mudanças climáticas, com atuação em vários estados do país. Em seguida, nos encontramos com o Grupo Terra Mirim e com a Nação Paxamama – ambos com atuação em favor da relação com a terra e luta por sua garantia enquanto sujeito de direito.

O encontro com esses movimentos nos possibilitou articular a resistência em relação à presença do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que chegaria ao evento no dia seguinte. Pensamos que se fazia necessário um posicionamento de denúncia, tendo vista o ministro ser um dos principais atores do momento de fragilidade e violação ocorridos nos ecossistemas brasileiros, com destaque para a Amazônia. Assim, como foi noticiado nas principais mídias do país e do mundo, o ministro não teve condições de falar, devido às manifestações contrárias ao seu pronunciamento.

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Outros ecos

Fomos entrevistados pela equipe da Record da Bahia para falar sobre reciclagem. Na oportunidade, apresentei a campanha Renovar Nosso Mundo, bem como seu objetivo e áreas de abrangência.

No penúltimo dia (22/08), o Secretário das Relações Exteriores do Brasil esteve na plenária apresentando dados totalmente distantes da realidade ambiental do país, provocando mais uma onda de manifestações na plenária. Após isso, surgiu a oportunidade de dar mais uma entrevista, desta vez, para a Agência Francesa de Notícias (AFP), sobre as fragilidades ambientais do país e sobre a Campanha Renovar Nosso Mundo.

Neste mesmo dia, tomamos as ruas do Pelourinho, junto aos coletivos, para um cortejo e um Tribunal Popular das Mudanças Climáticas. A organização do evento nos oportunizou fazer um pronunciamento, onde aproveitamos para mencionar a atuação dos cristãos quanto à temática, referenciando a campanha Renovar Nosso Mundo.

As conexões se estenderam para além do encontro. Tivemos uma grande oportunidade de conversar com o Secretário Geral da Convenção Batista da Bahia, abrindo caminhos para expandir o Tempo da Criação e nossas outras metodologias de trabalho.

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E as queimadas na Amazônia?

A conferência praticamente não pontuou o que está ocorrendo na Amazônia. Em contrapartida, participamos de mais uma manifestação: em forma de cortejo, juntamente com outras organizações presentes, caminhamos pelas principais avenidas do centro de Salvador, pedindo socorro pela Amazônia.

A Semana do Clima foi uma grande oportunidade de nos conectarmos a novos coletivos políticos, de espiritualidade e, sobretudo, de preocupação e ação em favor do meio ambiente. Em outras palavras, foi um ambiente de muitas convergências e conexões, onde a Campanha Renovar Nosso Mundo passou a ser vista, ouvida e conectada a outras categorias de luta pela Criação.

Edição: Phelipe Reis

Nota dos autores: A opção por escrever Criação com a primeira letra em caixa alta se dá por entendê-la como sujeito de direitos e pela pessoalidade de Deus torná-la nome próprio.

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