Arte, política e a relação dos povos indígenas com a terra

“Antes que existissem os livros, o Google e a Wikipédia, os indígenas liam e seguem lendo as plantas”. Esta é uma das características que o povo Kuna Dule cultiva com a terra. Além disso, seus cantos e suas danças são aprendidos a partir da observação dos animais e das árvores. Kuna Dule é um dos sete grupos indígenas distribuídos no território do Panamá, país da América Central.

Quem nos conta esses detalhes é Jocabed Reina Solano (foto à direita), indígena, teóloga e idealizadora do projeto “Memória Indígena”, que tem como proposta dar protagonismo às vozes aos indígenas, para que contem suas memórias e histórias, e falem como as comunidades indígenas têm entendido sua relação com Deus, por meio das boas novas de Jesus.

Jocabed explica que quando se busca conhecer as histórias dos povos indígenas, boa parte dos livros e registros não falam a partir das comunidades indígenas – é sempre o olhar de quem é de fora, do estrangeiro. Segundo ela, esse material tem seu valor, mas é importante que as histórias indígenas sejam contadas pelos seus protagonistas: os próprios indígenas.

Outra proposta do projeto “Memória Indígena” é promover uma reflexão teológica descolonizadora, uma teologia que surge a partir das identidades dos povos indígenas, utilizando toda a riqueza de símbolos, narrativas, metáforas e oralidade, a fim de que os povos indígenas percebam o rosto indígena de Deus.

A teóloga destaca que para o povo Kuna Dule, a arte está muito relacionada à política. Sendo assim, para o Kuna Dule não faz sentido descolar a arte da política ou da relação com a terra. “A partir da Mãe Terra se pode conhecer as figuras geométricas, as cores, os sons, os cantos dos pássaros; e temos aprendido nossos cantos e nossas danças a partir da nossa relação com os animais, com as árvores, com as plantas. As avós Kuna Dule dizem que as plantas são nossos textos sagrados. Antes que existissem os livros, o Google, a Wikipédia, os indígenas liam e seguem lendo as plantas, adquirindo os conhecimentos ancestrais mais antigos das árvores e das plantas medicinais”, relata Jocabed.

Na cultura do povo Dule, a teóloga diz que cada canto, cada dança, cada momento que os povos indígenas têm em sua comunidade é um lamento, uma oração ao criador. “Apesar das políticas lamentáveis de morte que existem em muitos de nossos contextos, apesar da morte de tantos defensores da Terra, por que os povos indígenas se entendem parte deste projeto de vida? É porque somos parte dela”, pontua.

Jocabed envia uma mensagem aos povos originários e à igreja evangélica no Brasil:

“Que os protestos através da arte nos permitam fazer novas formas de releituras de narrativas, em contraste com as hegemonias que querem matar os sistemas que não se pareçam com o seu sistema. É necessário o convite ao diálogo para reconhecer as comunidades indígenas, não apenas como uma plataforma folclórica, mas como um compromisso, onde nós possamos não apenas comer à mesa, mas sim preparar a comida, servir a mesa e comer juntas e juntos como irmãs e irmãos. Que a Igreja seja inclusiva, onde todas e todos possam fazer parte desta mesa.”
Confira abaixo a entrevista (legendada) que a teóloga Jocabed Reina Solano concedeu ao movimento Renovar o Nosso Mundo. A entrevista foi feita para o sarau “Arte, fé e meio ambiente”.

Nota: A imagem em destaque é uma arte em tecido típica do povo Kuna. Foto extraída da internet.

lang_blog_latest

#AmazôniaNossoÉden: Recursos para se manifestar no Dia da Amazônia

Neste domingo, dia 05/09, será comemorado o Dia da Amazônia!

Por isso, queremos mobilizar lideranças, pastores/as, comunidades, organizações e pessoas evangélicas a se posicionarem a favor da conservação deste bioma tão importante e essencial para grande parte dos povos originários, mas também para a proteção do clima e do meio ambiente.

RECAP elabora Cartilha de Orientação às igrejas a respeito da tese do Marco Temporal

Hoje, 01/09, a votação do PL 490 volta à pauta do Supremo Tribunal Federal (STF).

O PL 490 apresenta várias ameaças aos indígenas e o ponto mais criminoso deste projeto é a tese do Marco Temporal, a qual alega que as populações indígenas só tem direito às terras das quais já tivessem posse comprovada em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da atual Constituição Brasileira, mesmo sendo eles os originários.