Dia 25 de janeiro completaram dois anos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG). A lama da Vale matou 270 pessoas, entre empregados, funcionários de empresas terceirizadas,
2 anos de Brumadinho. Não podemos esquecer
A Vale não vale a vida de ninguém
[caption id="attachment_23663" align="alignright" width="300"] Foto: Ricardo Stuckert. Fotos Públicas[/caption]“O crime do rompimento da barragem do Córrego do Feijão da Vale em Brumadinho completou 2 anos. É criminoso, porque a Vale sabia dos riscos e simplesmente foi negligente. Até o momento, 259 mortos foram identificados (123 empregados próprios, 117 terceirizados e 19 moradores da região). Faltam ainda localizar os restos mortais das 11 vítimas. Nas nossas igrejas continuamos orando por todos os familiares, mas especialmente pelos familiares desses 11 ainda não encontrados: Angelita, Cristiane, Juliana, Lecilda, Luis Felipe, Maria de Lurdes, Nathalia, Olimpio, Renato, Tiago e Uberlândio. A dor dessas famílias e a devastação ambiental que a lama causou ao longo do rio Paraopeba nos reuniu em solidariedade com a Paróquia São Sebastião, o padre René, o bispo auxiliar Dom Vivente e com as ONGs como o MAB, na solidariedade e na luta por reparação e por justiça. E essa luta não pode parar. Minas depende da mineração, mas a mineração precisa ser segura. Por isso, como igrejas ecumênicas continuaremos sendo solidários com os familiares de todas as vítimas e com as organizações que buscam reparação e justiça. Se não pudermos encontrar essa justiça em Minas, vamos procurá-la nos órgãos federais. Se não pudermos encontrar essa justiça no Brasil, apoiaremos todas as tentativas de encontrá-la nos organismos internacionais. E se também ali não for possível encontrá-la, então confiaremos na justiça de Deus. A Vale não vale a vida de ninguém.” (Nilton Giese, pastor da Igreja Evangelica de Confissao Luterana no Brasil em Belo Horizonte, MG).
O pecado da Vale
[caption id="attachment_23645" align="alignright" width="300"] Foto: Ricardo Stuckert[/caption]“Foi um dos maiores crimes ambientais da história do Brasil. A Vale pecou pelo que poderíamos chamar de ‘dupla negligência calculada’. Primeiro, foi negligente na prevenção da ruptura. Como consequência, 270 pessoas foram ‘sufocadas’ pela lama da barragem (para usar um termo recorrente nos nossos dias). Segundo, está sendo negligente na reparação dos danos. A relutância em não indenizar aqueles que sofreram, direta ou indiretamente, agrava ainda mais o crime cometido. Certamente, por trás dessa ‘dupla negligência calculada’ está a lógica perversa do capitalismo, que coloca o lucro acima da vida. Isso é pecado! É como diz Jung Mo Sung: ‘Na medida em que o capitalismo conseguiu impor ao mundo o sentido último absoluto da acumulação ilimitada de riqueza, em seu nome exige e justifica o sacrifício de vidas humanas e do meio ambiente.’. Diante disso, oro como Jesus nos ensinou: ‘Pai, venha o teu Reino e seja feita a tua vontade.’. O Reino de Deus é de justiça. A sua vontade é que toda a criação desfrute o shalom. Que assim seja!” (Luiz Felipe Xavier, pastor, teólogo e integrante do GT Teológico/Pastoral de Renovar Nosso Mundo).
Brumadinho: uma ferida não cicatrizada
[caption id="attachment_23687" align="alignright" width="300"] Foto: Lucas Hallel ASCOM/FUNAI[/caption]“Ao olharmos para trás, corremos um sério risco de ‘esquecer’ diversas mazelas da nossa sociedade. Afinal, notícias que relatam nosso desrespeito com o próximo e a criação de Deus estão presentes no cotidiano: Pandemia da covid 19, corriqueiros eventos climáticos extremos, aumento do desmatamento, mineração ilegal, a lista é longa. No entanto, ainda precisamos tratar das feridas não cicatrizadas, e Brumadinho é uma delas. Não cicatrizadas, porque dezenas de famílias ainda choram pela falta de seus queridos, não cicatrizadas porque 11 famílias ainda sequer puderam enterrar de forma digna um familiar. Não cicatrizada porque rejeito de mineração ainda desce pelo Rio Paraopeba. Não cicatrizada porque centenas de pessoas perderam grande parte do seu sustento/dignidade. Enquanto este crime socioambiental completa 2 anos, Selma Barbosa, agricultora local, termina seu relato dizendo que ‘agora só Deus pode ter misericórdia da gente’. Há 2 anos Deus chorou, chorou pelas vidas, pela dor de seus filhos, pela ganância que mata e destrói. A boa notícia para a Selma é que Deus tem misericórdia!, e nos convida a orar e agir pelo próximo e pela criação!” (Gerson Roessle Guaita, integrante do Comitê Gestor de Renovar Nosso Mundo, técnico ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, bacharel em Gestão Ambiental e em Teologia).
As riquezas de Minas são sua perdição
[caption id="attachment_23699" align="alignright" width="300"] Foto Ricardo Stuckert[/caption]“As riquezas generosamente dadas pelo Criador ao estado de Minas Gerais se tornaram a sua perdição. Minas está vendo uma rápida dizimação de seus rios, lagos, terras cultiváveis, comunidades e culturas. Crimes são cometidos contra a vida humana, contra o meio ambiente e contra o direito de viver em comunidade e em família. […] o que foi deixado como legado ao homem para que prospere, tenha uma vida plena e possa transmiti-la às gerações futuras, é destruído pouco tempo pela ação, irrefreavelmente especulativa e criminosa, das mineradoras.” D. Joaquim Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte e Reitor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). IHU
O crime compensa
[caption id="attachment_23693" align="alignright" width="300"] Lucas Hallel ASCOM/FUNAI[/caption]No Brasil, há uma lição muito bem aprendida pelos setores políticos desenvolvimentistas, empresários da mineração e o mercado financeiro: o crime compensa. O desmoronamento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, ocorrido no último 25 de janeiro, está longe de ser um acidente. “Há evidências que tanto a empresa Vale S.A. como o Estado tinham informações sobre o perigo da barragem da mina Córrego do Feijão desmoronar. Por isso, chamamos este evento de crime, para o qual exigimos rápida responsabilização dos atores envolvidos, sendo processados criminalmente.” Pe. Dário Bossi (IHU).